Estudos recentes publicados por entidades científicas internacionais, como BMJ Oncology e The Lancet Public Health, apontaram um preocupante aumento nos casos de câncer em adultos jovens com menos de 50 anos. De acordo com os levantamentos, a incidência da doença nessa faixa etária cresceu 79% entre 1990 e 2019, enquanto o número de mortes aumentou em 28% no mesmo período. O fenômeno foi observado em diferentes países e tem chamado a atenção da comunidade médica, suscitando debates sobre fatores de risco, mudanças nos hábitos de vida e a necessidade de diagnósticos mais precoces nessa população.

Segundo a médica oncologista Monique França, do Instituto de Oncologia Ciências Médicas de Minas Gerais (IONCM-MG) e do grupo Oncoclínicas, esse cenário tem sido percebido na prática. “Temos observado esse aumento no consultório. Entre os tipos de tumores, têm se destacado os relacionados ao reto, que tradicionalmente estão associados a pessoas mais idosas. No entanto, temos percebido um crescimento significativo em pacientes jovens”, afirma.

Para a especialista, diversas teorias buscam explicar esse fenômeno, sendo a principal delas relacionada ao estilo de vida moderno. “Entre os fatores de risco já conhecidos estão a obesidade, o consumo de álcool e as mudanças nos hábitos alimentares", avalia a oncologista.

Atenção aos sintomas

Diante desse cenário, Monique defende a necessidade de maior atenção nos protocolos de rastreamento. “É fundamental a atualização constante das diretrizes de diagnóstico, de modo a incluir cada vez mais a população jovem. Da mesma forma, é essencial conscientizar as equipes de saúde para que estejam atentas à identificação precoce da doença nesse público”, destaca.

Para a médica, o alerta deve valer tanto para os profissionais quanto para a população em geral. “Todos os sintomas relatados pelos pacientes devem ser considerados, sem descartar a possibilidade de câncer apenas pelo fato de se tratar de uma pessoa jovem. Afinal, os tumores podem acometer qualquer faixa etária, ainda que sejam mais comuns em idosos".

Recomendações

De acordo com a oncologista, a evolução da medicina na capacidade de detectar a doença também pode estar relacionada ao aumento do número de casos, o que reforça a importância dos exames preventivos. “Em mulheres jovens, por exemplo, o crescimento nos casos de câncer de mama pode estar associado ao maior acesso e à melhoria dos exames, que hoje permitem identificar a doença em estágios mais precoces”, explica.

Ela ressalta, ainda, que a prevenção deve ir além do rastreamento. “É fundamental conscientizar a população sobre a adoção de hábitos de vida saudáveis. Embora ainda sejam necessários mais estudos para compreender as causas do aumento de casos em jovens, já sabemos que escolhas saudáveis podem reduzir significativamente o risco de desenvolver diferentes doenças, inclusive o câncer".