• 06 DE MAIO DE 2022

O corpo negro e a escola

O corpo negro e a escola

Segundos dados do IBGE, 56% da população brasileira é negra ou parda. Nos cargos de lideranças das 500 maiores empresas do país, contudo, essa representatividade é de 4,7%. De todos os livros publicados no país de 1965 a 2014, só 10% foram escritos por autores negros. No Congresso Nacional, os negros e pardos são apenas 23% dos deputados e senadores. Então, onde estão os corpos negros? Que lugares ocupam? E como estão representados nos relatos de quem se propõe a falar deles?

Foram esses questionamentos que conduziram a pesquisa de Mestrado “O corpo negro e a escola”, da professora da rede municipal Andréia Cristina Pereira. “Optei por falar da escola porque é o ambiente que sempre fez parte da minha vida e também porque a escola é o primeiro lugar de contato com o mundo”, afirma. “A escola tem por hábito colocar todo mundo em uma única caixinha, e o corpo preto é aquilo que escapa, que fica fora do planejado”. Andréia enumera alguns exemplos: o enfeite que não se adequa ao cabelo crespo, uma fantasia sem modelagem para um quadril mais largo, a dança em par que exclui a criança negra.

Ainda que o título da pesquisa delimite a análise ao universo escolar e que o recorte de Andréia tenha sido os estudos, debates e práticas na disciplina de Educação Física, a professora ressalta o caráter macro da discussão: “O corpo negro está no mundo, está na vida. E ele sempre chega primeiro, porque ele não sai sem documento, anda com a notinha de qualquer compra no bolso a todo tempo, é seguido pelo segurança no supermercado, não é atendido em uma loja. É preciso racializar tudo, porque mesmo que eu queira, não me deixam esquecer meu corpo negro”.

Da academia à prática

Segundo Andréia, a opção pelo enfoque na Educação Física se deu porque a proposta original seria trabalhar a capoeira – plano inviabilizado pela pandemia –, mas também porque é onde, muitas vezes, o racismo fica mais explícito. Em sua pesquisa, a professora fez um levantamento e revisão bibliográfica de todos os estudos sobre o corpo negro apresentados nos últimos anos no Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e no Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as. A conclusão é que, ainda que de forma tardia, a questão racial está entrando na pauta e gerando tensionamentos onde antes não existia. “É algo novo, recente, que ainda vai demorar a chegar na escola. Por enquanto, o trabalho é de formiguinha. Se os avanços frutos do debate racial ainda não chegaram como legislação, vão chegar a partir de mim e de outros questionando o currículo escolar, os colegas, uma atividade específica. Para além de dor e sofrimento, o corpo negro carrega potência. É disso que quero falar”, finaliza.


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